INTERNACIONALIZAR PARA CRESCER: EXPORTAR É MUITO MAIS DO QUE ENVIAR UM CONTÊINER
Falar em internacionalização soa bonito no pitch. Na prática? Dá trabalho. Mas também pode ser o que separa sua empresa da estagnação em um mercado saturado.
A exportação é, para muitos negócios brasileiros, o primeiro e mais acessível passo rumo ao cenário global. Só que, diferente do que alguns pensam, não é só embalar o produto, chamar o despachante e torcer pra dar certo.
Existe método. Existe estratégia. E, claro, existe uma dose generosa de burocracia para apimentar o processo. Portanto, planejar é preciso.
Diante de tais fatores, vejamos alguns pontos de atenção.
1. Pesquisar não é “jogar no Google”
Muita gente começa exportando na base do achismo — ou pior, porque “um primo conseguiu vender pra Portugal”. O risco? Alto.
Uma boa pesquisa de mercado internacional precisa responder:
• Como seu produto será percebido culturalmente?
• Quem são os concorrentes reais no país-alvo?
• Há barreiras tarifárias, sanitárias ou técnicas?
• O país tem acordo comercial com o Brasil?
Spoiler: Mercosul não resolve tudo. E o “acordo com a União Europeia” ainda está naquele eterno quase-lá.
2. Estratégia não é improviso disfarçado
Exportar "só pra ver o que acontece" é o equivalente comercial de pular de paraquedas torcendo para estar com ele dobrado.
É essencial definir:
• Mercado-alvo (com dados, não com feeling);
• Formação de preço de exportação (com logística, tributos e câmbio no radar);
• Posicionamento (você vai competir por preço ou agregar valor?).
3. Adapte o produto — ou ele será ignorado
Não é porque seu produto é um sucesso no Brasil que ele será bem aceito lá fora. Goste ou não, o mercado externo pode te obrigar a repensar detalhes que você achava perfeitos.
• Rótulo em múltiplos idiomas;
• Embalagem que não ofenda nenhum costume local;
• Certificações específicas (CE, FDA, Kosher, Halal...).
Já vi embarque barrado porque uma embalagem trazia a imagem de um porco e o destino era um país muçulmano. O detalhe custa caro.
4. Logística: onde tudo pode dar errado (ou certo)
Exportar sem planejar a logística é tipo marcar viagem e esquecer o passaporte.
Você vai precisar lidar com:
• Modal ideal (aéreo, marítimo, rodoviário);
• Tempo de trânsito e armazenagem;
• Regimes aduaneiros especiais (como entreposto ou drawback).
Comece pequeno. Use uma trading ou exportador indireto se ainda não domina o processo. Evita dor de cabeça — e prejuízo.
5. Comunicação: fale a língua do cliente (literalmente)
A sua campanha em português com memes regionais não vai vender nada no Vietnã. Tradução mal feita também não. Tradução automática, então... melhor nem comentar.
• Tradução profissional (não use o Google Tradutor em rótulos, sério);
• Redes sociais locais (já ouviu falar do WeChat ou KakaoTalk?);
• Material promocional adaptado à cultura de destino.
6. Se não medir, você só está gastando
Entrar num novo mercado sem métricas claras é como dirigir de olhos vendados e torcer pra chegar. Então defina:
• Volume exportado vs. margem líquida (não adianta vender e perder dinheiro);
• Custo de entrada x retorno;
• Taxa de recompra, retenção de distribuidores;
• Velocidade de giro do estoque no destino.
E não vale aquela famosa frase: “Estamos ganhando em volume.” Isso não paga boleto.
O Lado B da Internacionalização (ou: o que ninguém te conta)
Você vai topar com:
• Legislação tributária maluca em alguns países;
• Exigências sanitárias que mudam sem aviso;
• Um mundo de documentos que mudam até o nome do seu produto;
• E aquela clássica: “Você precisa de um parceiro local.” (Boa sorte em achar o certo).
Já vi empresa travar embarque por causa de uma vírgula fora do lugar no rótulo. Literalmente.
Mas vale a pena?
Sim. Se você fizer com método, apoio técnico e estratégia, o retorno é real:
• Acesso a mercados com poder aquisitivo maior;
• Proteção contra crises internas (diversificação de mercados);
• Evolução de processos internos puxada pelo padrão internacional;
• Fortalecimento de marca.
Em linhas gerais, exportar não é só “escalar vendas”. É reaprender a competir. Com planejamento, inteligência comercial, assessoria especializada e humildade para adaptar — a jornada de internacionalização pode ser o maior divisor de águas da sua empresa.
E um último conselho: não vá sozinho. Ouça quem já tropeçou nesse caminho e aprendeu. Existem ótimos profissionais no mercado — muitos deles estão aqui no LinkedIn conosco, talvez até nos comentários deste post.
Daniel Perreira
Diretor Adjunto de Comércio Exterior

